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Vacina da gripe deixa doente? Não, dizem especialistas

 
 
São Paulo – Nas redes sociais, muitas pessoas estão compartilhando mensagens sobre a vacina contra gripe. Algumas dizem que a vacina contém mercúrio, outras que a vacina, ao invés de imunizar, deixa a pessoa gripada. Alguns posts contêm teorias que afirmam que a imunização é um projeto do governo para matar velhinhos, evitar o nascimento de bebês e esterilizar pessoas. As mensagens, dizem os especialistas em vacinas, não passam de pura bobagem. E de mitos criados sem nenhum fundamento científico.
A vacina da gripe, diz Helena Sato, diretora de imunização da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, como a maioria das vacinas, é feita com fragmentos de vírus. Esse pedaço, explica a médica, é inativado por processos químicos e físicos em laboratórios avançados tecnologicamente. “Por isso, a vacina só é capaz de ativar as defesas do sistema imunológico. Jamais terá poder para matar uma pessoa ou mesmo causar gripes”, afirma.
Para ter uma segurança ainda maior, a vacina enfrenta ainda uma bateria de testes antes de ser levada à rede médica pública e privada. Com eles, o laboratório fabricante verifica se o fragmento do vírus da vacina está totalmente inativo e, também, se não está contaminado com algum elemento que possa causar danos ao ser humano. “Como o controle é rígido, é impossível ser produzida uma vacina com mercúrio, um elemento fatal dependendo da dose, ou mesmo com uma substância abortiva”, afirma Helena.
A vacina, diz a médica, só é perigosa para um grupo: para aqueles que têm alergia a ovos de galinha. “Porque o vírus é cultivado nesse produto.”
Reações – Muitas pessoas costumam escrever nas redes sociais que ficam gripadas depois de tomar a vacina antigripe. Segundo Jean Gorinchteyn, infectologista do hospital Emilio Ribas, divulgar isso e, principalmente, acreditar nisso é um grande erro. A vacina – feita para proteger de três tipos de vírus, entre eles o H1N1 - causa apenas uma leve irritação no local da injeção e um pequeno desconforto muscular, cuja intensidade depende do nível de resistência à dor de cada um. Gorinchteyn explica que cerca de 5% dos vacinados podem ter um desconforto no dia da aplicação da vacina, como uma leve dor de cabeça e dores no corpo. “O que muitos confundem com um resfriado ou um começo de gripe. Mas não é nenhuma das duas coisas.”
Algumas pessoas, diz Helena, até podem desenvolver uma febre baixa 48 horas depois da aplicação. “Contudo, isso é muito raro de acontecer. E pode ser que a febre esteja associada a um quadro causado por uma infecção devida a uma outra doença”.
Gorinchteyn revela que doenças como gripe e resfriados estão associadas à vacina de gripe por uma coincidência. A campanha de vacinação ocorre no outono, época com dias mais secos e temperaturas altas e baixas. Neste tempo, muitos ficam alérgicos e resfriados. E como os ambientes estão mais fechados, também há mais caso de contaminação por vírus da gripe. “Muita gente, então, vai tomar a vacina um pouco doente. E acredita depois que foi ela quem gerou o quadro”, relata Gorinchteyn.
Custo – O governo aplica gratuitamente a vacina contra a gripe em idosos, profissionais da saúde, crianças de seis meses até dois anos, grávidas, indígenas e portadores de doenças que afetam o sistema imunológico. Essas pessoas, afirma o governo, podem ter quadros graves caso se contaminem com o vírus da gripe.
O infectologista Gorinchteyn explica que mesmo as pessoas que não estão neste grupo de risco devem tomar a vacina contra gripe. “É uma proteção para si e a para a família”. Vacinada, a pessoa não carrega o vírus para o ambiente de trabalho, nem para casa. E o mais importante: não contamina transeuntes no transporte público e colabora para diminuir o risco de epidemias.
A vacina, que custa em média 70 reais, também é um investimento. A pessoa evita gripes e, claro, ficar de cama – ou seja, perder dias de trabalho ou mesmo de escola. Além disso, o valor é muito inferior ao dinheiro gasto para curar uma gripe forte, cujo custo inclui remédios, médicos, radiografias, exames de sangue e, caso o vírus seja muito forte, até internações. “A vacina é boa até para o bolso”, explica Gorinchteyn.
Redes sociais – Carla Domingues, coordenadora do Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde, não considera as redes sociais um grande problema para a campanha de vacinação. “Os boatos que circulam em redes como o Facebook e Orkut atrapalham, claro, porque muita gente deixa as vacinações de lado e se expõem aos vírus”, explica, “contudo, os boatos nos ajuda a preparar uma estratégia de comunicação”.
De acordo com Carla, o Ministério da Saúde – que conta com uma equipe especializada em redes sociais – usa a estratégia para acabar com boatos e teorias malucas, como a que diz que a vacina é abortiva ou um método para matar idosos.
“Basicamente, podemos afirmar que foram as vacinas que erradicaram doenças graves como poliomielite, coqueluche e difteria. E que desde do começo do século passado as vacinas salvam vidas.” A estratégia também é replicada nos meios de comunicação e para os agentes de saúde que têm contato com as pessoas do grupo de risco.
Carla admite que os boatos nunca deixarão de existir, principalmente nas redes sociais, onde as pessoas podem escrever o que querem e a qualquer momento. “Cabe ao governo e à sociedade mapear isso e evitar que a mentira se propague. Porque a vacinação evita epidemias, algo que mata muita gente”, diz.
Enquanto as redes sociais ainda não se transformam no principal problema, Carla vai se virando com o mais eterno deles: o atraso das pessoas com a vacinação. “Historicamente, a maioria dos brasileiros vai tomar vacina no último dia. Este ano não está sendo diferente, mesmo com campanha nas redes sociais”.

Fonte: Info