Tartaruga marinha gigante chegou a 3 metros de comprimento
A princípio, Gregory Harpel achou que o objeto marrom-escuro que tinha encontrado era apenas uma pedra. Mas o objeto estava em uma posição estranha sobre um local isolado em área gramada ao longo de uma enseada em Monmouth County, no estado de Nova Jersey. Uma observação mais detalhada confirmou que ele tinha encontrado algo muito mais interessante.
“Eu comecei a ver os pequenos orifícios no osso, por onde passam os vasos sanguíneos”, conta Harpel, um caçador amador de fósseis que fez essa descoberta em 2012. “Eu achei que talvez fosse algum tipo de dinossauro”.
No fim das contas, o fóssil não era de dinossauro. Mas graças a várias coincidências, Harpel acabava de fazer uma descoberta sem precedentes que revelaria a existência de um antigo gigante dos oceanos.
Metade de um úmero
No Museu Estadual de Nova Jersey, David Parris, curador de história natural, conseguiu identificar o objeto misterioso: era a metade inferior do osso de um membro dianteiro de uma tartaruga marinha que viveu na mesma época que os dinossauros. Parris se lembrou de observar outro osso quebrado semelhante àquele em uma coleção da Academia de Ciências Naturais da Drexel University, na Filadélfia.
“Ele disse tranquilamente : ‘talvez nós devêssemos levá-lo para a Academia de Ciências Naturais e ver se encaixa’”, lembra Jason Schein, curador-assistente de história natural do Museu Estadual de Nova Jersey. “O Dave estava brincando, achando que aquilo nunca, jamais poderia acontecer”.
Mesmo assim, Schein levou o osso de Harpel para a Academia. Eles juntaram as duas peças de osso fossilizado e, apesar de algumas lascas na borda da fratura, eles se encaixaram perfeitamente. A metade de Harpel teria se conectado ao cotovelo da tartaruga, enquanto a metade que armazenada na Academia teria se ligado a seu ombro, formando um osso completo conhecido como úmero.
A história por trás do osso da Academia torna esse conto ainda mais extraordinário. Não se sabe quando, ou como, a Academia de 202 anos adquiriu o fóssil, mas a primeira descrição científica dele em 1849 o identificou como pertencente a uma tartaruga marinha ancestral. Isso significa que a primeira metade desse fóssil foi descoberta pelo menos 163 anos antes de Harpel encontrar a segunda metade – ou talvez mais.
“Infelizmente as coisas não eram tão bem documentadas naquela época”, lamenta Ted Daeschler, curador associado de zoologia de vertebrados da Academia.
A primeira metade encontrada do úmero oferecia informações suficientes para que a espécie a que ele pertencia fosse batizada de Atlantochelys mortoni. Durante mais de 160 anos, essa foi a única parte encontrada da tartaruga.
Uma descoberta sem precedentes
Paleontólogos às vezes voltam ao local em que um espécime foi descoberto para encontrar outros fósseis que a escavação original não percebeu. E peças de museu podem ser perdidas e redescobertas muitos anos depois. “Mas ninguém jamais tinha encontrado outra parte de um mesmo osso, com um intervalo de 163 anos”, declara Schein. “Dizer que isso só acontece uma vez na vida é pouco, porque nunca tinha acontecido antes”.
Os paleontólogos acreditam que o osso tenha sido enterrado inteiro e que tenha se quebrado em dois quando a erosão o retirou de seu túmulo original. Reunidas, essas metades trazem mais informações sobre a tartaruga a que pertenciam. De acordo com Daeschler, a tartaruga “Era um animal maravilhoso”.
Com base no tamanho do úmero inteiro, os pesquisadores puderam estimar o tamanho da tartaruga: aproximadamente três metros, do nariz à cauda. Isso põe o animal entre as maiores tartarugas marinhas que já existiram. De acordo com o pesquisador, a tartaruga-comum parece ser seu parente vivo mais próximo.
Devido à falta de registros do fóssil da Academia, paleontólogos não tinham nenhuma ideia sobre o local onde ele foi encontrado. A descoberta de Harpel possibilitou que eles localizassem a Formação do Monte Laurel, que fica depositada abaixo de um mar raso onde tubarões e répteis marinhos atualmente extintos, chamados de mosassauros, também nadavam, há cerca de 75 milhões de anos.
“É tudo parte do cenário do passado”, observa Daeschler. “Eu acho que essas são descobertas científicas muito importantes”.
Os pesquisadores descrevem a descoberta no volume de 2014 do periódico Proceedings of the Academy of Natural Sciences of Philadelphia.
Fonte: Scientific American