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O contato com a natureza ajuda no desempenho escolar?

Crianças visitam o rio Paraguai com os instrutores de educação ambiental do Projeto Bichos do Pantanal  (Foto: Divulgação/ Projeto Bichos do Pantanal)
Crianças visitam o rio Paraguai com os instrutores de educação ambiental do Projeto Bichos do Pantanal

O contato com a natureza traz algum benefício para o desempenho escolar? Essa é uma das respostas que os pesquisadores do Projeto Bichos do Pantanal, realizado pelo Instituto Sustentar em Cáceres, no Mato Grosso, buscam desde 2013, quando passaram atuar nas escolas públicas e com a população da região. A inovação da proposta é ir além de aplicar ações de educação ambiental e também medir como as crianças e jovens vão responder a esses estímulos.
Uma das bases do programa traz o uso da arte como um  caminho  para o aprendizado sobre a natureza. A metodologia conhecida como Rio das Palavras (Rivers of Words, www.riverofwords.org),  foi criada pela Universidade  de Maryland, na California, nos EUA. O foco de atuação é ter os rios e cursos d’água como inspiração. O mais importante é ensinar as crianças que a natureza não é algo fora de nosso dia-dia, e que a conexão é feita a todo momento, seja por meio do contato com as árvores que estão nos quintais, calçadas, parques, ou pela observação dos pássaros de uma cidade.

“É incrível que poucas pessoas sabem falar o nome de até sete espécies diferentes de aves que existam na própria cidade onde moram. Isso comprova que estamos desconcertados  mesmo da natureza, algo que traz uma série de prejuízos para nossa saúde. A ciência já comprovou que viver em excesso apenas o mundo urbano, ignorando a natureza, desencadeia sérias complicações, como síndrome de pânico, depressão e outros problemas”, afirma Douglas Trent, pesquisador-chefe do Projeto Bichos do Pantanal.

Outra proposta da metodologia Rio das Palavras é estimular as crianças a criarem arte e poesia a partir da inspiração despertada pelo Rio Paraguai, na área de atuação do Projeto Bichos do Pantanal.  A iniciativa também  traz a escolha de um animal símbolo do Pantanal por determinadas classes das escolas, para que desta forma as crianças pesquisem e aprendam todas as conexões que o ecossistema possui com aquela espécie símbolo. “Existem muitas possibilidades e propostas de educação ambiental, o mais importante é que vamos construir os programas em parceria com os professores, educadores e gestores de Cáceres”, afirma Douglas Trent. “Nada é simplesmente determinado por nós. Essa construção é coletiva”, diz. 

Uma das surpresas da iniciativa é que algumas crianças, mesmo as nascidas em Cáceres, no coração do Pantanal, nunca viram o rio Paraguai. Por morarem em comunidades rurais e não terem condições econômicas de se deslocarem para a região central, onde está o rio, muitas crianças, e até alguns  adolescentes, passaram a vida sem ver as partes alagadas do Pantanal. Nesses casos, as aulas de campo são uma reconexão desses jovens com o meio ambiente. “A partir de novembro vamos trazer psicólogos da Universidade do Kansas que vão medir por meio de testes e exames qual o impacto desse contato com a natureza no aprendizado. Os resultados prometem novas surpresas em Cáceres”, afirma Douglas Trent.

*Jussara Utsch é diretora do Instituto Sustentar e coordenadora-geral do Projeto Bichos do Pantanal, patrocinado pelo Programa Petrobras Socioambiental. Especialista em sustentabilidade pela Fundação Dom Cabral, foi diretora de comunicação do Conselho Empresarial Bras. para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), foi ponto focal do  Comitê Brasileiro da Avaliação do Millennium Ecosystem Assessment, da ONU. Criou o programa de TV Brasil Sustentável na TV Cultura de São Paulo e na TV Educativa do Rio de Janeiro.  É idealizadora e coordenadora do Sustentar (Fórum Internacional pelo Desenvolvimento Sustentável), um dos maiores fóruns brasileiros para a discussão do desenvolvimento sustentável.)

Fonte: Época