Como serão as colônias de humanos fora da Terra?
Este mês, ocorrerá em Nova York uma conferência dedicada a ideias que podem mudar o mundo. O World-Changing Ideas Summit, no dia 21, vai examinar alguns dos conceitos mais ousados e provocadores do mundo da ciência, tecnologia e saúde.
Por que devemos levar a sério a ideia de colonizar o espaço?
Com a população do planeta crescendo e com mais competição por espaço e recursos, alguns já estão convencidos de que é preciso olhar para fora da Terra para garantir a sobrevivência da humanidade.
Elon Musk, empresário da empresa de turismo espacial SpaceX, disse recentemente: "Eu acho que existe um argumento forte para se tornar a nossa vida algo 'multi-planetário' para garantir a existência da humanidade no caso de uma catástrofe acontecer".
Mesmo que você não vislumbre esta visão pessimista, é difícil ignorar o instinto humano eterno de descobrir o que não foi descoberto - um impulso que nos faz olhar além do nosso planeta.
E pode haver menos obstáculos do que se pensa.
"Estamos em um nível de tecnologia em que você pode imaginar deixar o planeta para ir a alguns lugares no nosso Sistema Solar", diz o ex-astronauta Jeffrey Hoffman. "A Lua está ali na esquina e Marte não está longe. Temos a possibilidade de pelo menos dar os primeiros passos em direção a alguns lugares novos ainda durante a nossa geração."
Como seria uma colônia espacial?
Nos anos 1920, o pioneiro de pesquisas com foguetes Herman Potocnik imaginou uma aeronave circular - bastante parecida com um disco voador - que gira e cria gravidade artificial, com um grande espelho côncavo que capta a luz solar como fonte de energia.
Por mais maluca que pareça esta ideia, ela persistiu até o começo dos anos 1970, e foi apresentada pelo físico de Princeton Gerard O'Neill e novamente pela Sociedade Interplanetária Britânica.
Sociedade Interplanetária Britânica vislumbrou uma colônia em formato de disco voador
Antes de se ridicularizar a ideia e a instituição, é bom lembrar que a Sociedade Interplanetária Britânica previu que o homem chegaria à Lua - três décadas antes do fato acontecer.
E viver em Marte ou outro planeta, é possível?
Outros especialistas preferem a ideia de se estabelecer em algum planeta ou satélite, em vez de montar uma colônia em uma espaçonave. Marte sempre está no foco deste debate, e já existe gente trabalhando em uma espécie de "projeto" para estabelecer uma colônia lá algum dia.
O projeto Mars One, da Holanda, foi lançado em 2012 e foram escolhidas 40 pessoas - entre 200 mil candidatos. O projeto é financiado por um programa estilo "reality show" - que pretende treinar as pessoas para uma vida no planeta vermelho. Para muitos, a ideia é uma grande brincadeira, mas mostra que já existe gente interessada no assunto.
A empresa SpaceX também tem projetos para colonizar Marte - mas com um pouco mais seriedade. A empresa imagina um veículo gigante chamado Mars Colonial Transporter, que seria usado para várias viagens entre a Terra e Marte.
"Se conseguirmos estabelecer uma colônia em Marte, é possível que consigamos colonizar todo o Sistema Solar, pois teremos feito um grande avanço na viagem espacial", diz Musk. As luas de Jupiter, de Saturno e alguns asteroides também estariam ao alcance desta tecnologia.
Mas como seria a vida no espaço?
A rotina atual a bordo da Estação Espacial Internacional revela alguns dos desafios do futuro. O custo de se levar água suficiente para os seis tripulantes é de US$ 2 bilhões por ano. Além disso, é preciso transportar comida e oxigênio até a estação. No mundo ideal, a colônia espacial precisa ser auto-suficiente - capaz de produzir seus próprios recursos ou de retirá-los de algum asteroide.
Há também efeitos nocivos à saúde: danos aos músculos e ossos por exposição prolongada à falta de gravidade, e aumento da pressão sanguínea na cabeça. Radiação côsmica pode aumentar riscos de catarata e câncer.
Vários desses problemas e alguns inusitados - como o fato de que o cabelo humano é facilmente combustível em baixa gravidade - teriam de ser resovidos.
Mais explosiva ainda pode ser a relação entre as pessoas. A experiência psicológica Mars500 - conduzida por russos em 2007 - tentou simular as condições mentais de uma viagem ao planeta. Seis voluntários ficaram presos em uma acomodação de 80 metros quadrados por 520 dias.
Efeitos psicológicos de muito tempo no espaço são perigosos
Um dos participantes teve problemas sérios de sono, de tal forma que ele sempre estava dormindo quando os demais estavam acordados, e se isolou do resto da "tripulação".
Outro voluntário sofreu com depressão extrema. Um terceiro teve inibição cognitiva.
Sem falar nos aspectos políticos. Como seria governada uma colônia? Mesmo com esse problema estando tão distante, já existem filósofos e escritores que teorizam sobre uma "constituição" que define princípios e direitos no espaço.
Se der certo, as pessoas que nascerem no espaço serão diferentes de nós?
Se os humanos conseguirem se reproduzir no espaço - e com todos os problemas de saúde que aflingem os astronautas isso parece um futuro muito distante - as colônias espaciais poderão desenvolver culturas próprias.
Cameron Smith, da Portland State University, especula que uma colônia de 2 mil indivíduos teria culturas e comportamentos totalmente diferentes 300 anos depois de ser formada - com mutações na textura de cabelos, pele e tamanho do corpo. O corpo tenderia a se tornar menos robusto, adaptando-se a uma realidade de baixa gravidade.
Smith também especula sobre o futuro da engenharia genética - com a criação de órgãos artificiais radicalmente diferentes dos nossos, que possam aspirar o oxigêno do dióxido de carbono.
Fonte: BBC