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CHAVES - 3 conceitos filosóficos que aprendemos com Chaves

 (Foto: Crative Commons)

O último capítulo de Chaves aconteceu nesta sexta-feira (28), com a morte de seu criador Roberto Bolaños, aos 85 anos, depois de uma parada cardíaca. É, certamente, a história mais triste, desde o episódio em que o menino órfão foi acusado de ladrão ou quando quase foi deixado na vila, enquanto toda a vizinhança ia para Acapulco — ou para o Guarujá, dependendo da versão. Exibido entre 1971 e 1980, no México, estreou no Brasil, pelo SBT, em 1984, e permaneceu eternamente em exibição. 

A versatilidade de Bolaños foi tão marcante que, em seu país, recebeu a alcunha de “Chesperito”, ou “Pequeno Shakespeare”, em referência a sua pouca altura.

Em 34 anos de exibição no Brasil, aprendemos mais do que bater nos vizinhos ou desenhar porcos com letras “W”. Aprendemos também alguns conceitos filosóficos, por mais que não tenhamos reparado nisso.

Cinismo: A filosofia vive em um barril

Assim como Chaves, o filósofo pós-socrático Diógenes vivia em um barril. E todo o desprendimento do garoto com a vida não poderia ter outra influência senão o maior representante do cinismo. Não, não é o cinismo das tias que perguntam “E os 'namorado'?” para sobrinhas encalhadas. Mas, sim, o conceito filosófico que foi levado ao extremo por Diógenes, que, segundo dizem, andava nu e “não tinha propriedade alguma para não ser propriedade de nada”, como lembra o filósofo Mario Sergio Cortella, no programa Agora é Tarde.

O Eterno Retorno: Nietzsche de calça jeans

Na obra A Gaia Ciência, Nietzsche propõe uma ideia mais perturbadora do que o amor de Dona Clotilde para o Seu Madruga. Ele sugere a possibilidade de termos de viver outras vidas repetidamente, fazendo as mesmas coisas que fizemos nesta. É o conceito do Eterno Retorno. Assim, imaginando que cada episódio da vila seja uma vida diferente, as ações que lá acontecem ocorrem repetidamente porque estão condenadas a este conceito. 

O pobre coitado do Seu Madruga, então, seria o melhor exemplo da ideia, uma vez que sempre é cobrado a pagar os mesmos 14 meses de aluguel; e sempre será condenado a apanhar da Dona Florinda, ainda que não tenha culpa. Se incorporasse a ideia proposta por Nietzsche, ele poderia tentar romper o ciclo de sofrimento para ficar bem consigo mesmo. Mas arrumar um emprego e enfrentar a mãe do Quico não parece uma opção.

Filosofia do Absurdo: Albert Camus só quer evitar a fadiga

Olhando pelos olhos do escritor e filósofo Albert Camus, o carteiro Jaiminho poderia ser um revoltado. Sempre com a desculpa de “evitar a fadiga”, o habitante mais ilustre de Tangamandapio poderia, na verdade, ter tomado consciência da inutilidade de seu trabalho e criado, assim, uma metáfora sobre a vida moderna, na qual as pessoas são obrigadas a realizar tarefas sem sentido. 

A ideia está no ensaio O Mito de Sísifo, que apresenta os conceitos da filosofia do absurdo, no qual Camus faz uma referência à lenda grega do mortal que prendeu a morte e, como castigo dos deuses, foi obrigado a rolar uma pedra morro acima, que, ao chegar no topo, despencaria novamente. E seguia assim por toda a eternidade. Para Camus, a solução, no lugar do suicídio, seria a revolta. E quem paga são os outros habitantes da vila que precisam procurar por suas próprias cartas.

Fonte: Galileu