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É mais difícil correr no deserto do Saara ou no Polo Norte?

(Thinkstock)
Segundo médico, desafio é maior sob sol escaldante

O explorador britânico Ranulph Fiennes vai correr a Marathon des Sables (Maratona das Areias) no Deserto de Saara em abril. Seu objetivo é levantar recursos para a entidade de apoio a pessoas com câncer Marie Curie Cancer Care.

A corrida, que acontece em pleno deserto do Saara, tem um percurso de 251 km, o que equivale a correr cinco maratonas e meia em seis dias. No período, há apenas um dia de descanso.
O desafio é conhecido popularmente como "a caminhada mais difícil da Terra". Os competidores têm de carregar todo o seu equipamento, incluindo um espelho ─ caso se percam nas dunas de areia ─ e kit anti-veneno para cobras e escorpiões. Há postos de distribuição de água pelo caminho, mas, com temperaturas facilmente atingindo os 50 graus Celsius, eles também de levar seus próprios suprimentos.

Ranulph é mais conhecido pelas corridas no gelo. Ele foi o primeiro homem a circunavegar a Terra polo a polo e o britânico mais velho a alcançar o topo do Monte Everest, na Cordilheira do Himalaia, o mais alto do mundo.
Mas o que é mais difícil? Correr sob o sol escaldante ou sob o frio cortante?
O médico Andrew Murray, da Faculdade de Esporte e Medicina do Exercício, no Reino Unido, já participou de corridas polares e também da Maratona das Areias.
Ele explica que, no frio, cada milímetro do corpo precisa ser coberto para evitar úlceras por congelamento.
Correr na neve reduz o nível de energia do corpo e ainda há riscos como fendas no gelo, no Polo Sul e ursos polares, no Polo Norte, acrescenta Murray.

O deserto, no entanto, é mais difícil, assegura o especialista. A explicação: no frio, o competidor sempre pode usar mais roupas para continuar o percurso. "O corpo humano é bom para guardar calor. Mas é muito mais difícil perder calor".
Em outras palavras, a insolação (quando a temperatura corporal aumenta além dos 40,6 graus Celsius) é um problema em potencial, afirma o médico.

Explorador Ranulph Fiennes vai correr Maratona das Areias no Deserto do Saara

Há o risco de desidratação ─ aqueles que correm muito rápido têm de andar mais devagar para evitar perder mais água do que podem beber. E ainda há a areia. "As bolhas causam a sensação de os pés terem sido moído dez vezes", explica Murray.
Fiennes já sofreu dois ataques cardíacos e, em 2013, teve de abandonar a tentativa de cruzar a Antártica no inverno.
Mas ele diz que o incentivo vem do que chama de "obsessão numérica" de levantar 20 milhões de libras (R$ 80 milhões) para o tratamento do câncer. Atualmente, Fiennes já tem 16,8 milhões de libras (R$ 67,8 milhões).

O esforço cardíaco, no entanto, preocupa o maratonista, que terá 71 anos quando participar da corrida. Se ele terminar o percurso, será o britânico mais velho a obter o feito. Um francês de 80 anos detém o título de o competidor mais velho do mundo a ter concluído a Maratona das Areias.
Fiennes prevê que não conseguirá se mover no fim do primeiro dia. "Fisicamente, vou ficar um caco muito rápido".
Mas esses desafios são combatidos na mente, acredita ele. "Haverá uma voz dentro da minha cabeça dizendo que 'Você terá um enfarte', 'Você terá hipertermia', 'Você tem uma família', 'É estúpido seguir adiante'. Esse tipo de pensamento parece lógico, dá motivos para parar. Mas você tem de lutar contra isso. E eu já fiz isso várias vezes em minha vida".

Fonte: BBC