Mistério de mamíferos 'esquisitos' descobertos por Darwin é solucionado
Ilustração mostra como seria o mamífero macrauquênia, que lembra um camelo sem concorva com tromba de elefante
Para o naturalista britânico do século 19 Charles Darwin, eles eram os animais mais estranhos já descobertos, um parecido com uma mistura de hipopótamo, rinoceronte e roedor e outro lembrando um camelo sem corcova com uma tromba de elefante.
Desde que Darwin coletou seus fósseis cerca de 180 anos atrás, os cientistas viviam se perguntando onde estas estranhas criaturas sul-americanas, extintas 10 mil anos atrás, se encaixavam na árvore genealógica dos mamíferos. Agora, o mistério foi solucionado.
Nesta quarta-feira (18), pesquisadores disseram que uma análise bioquímica sofisticada de colágeno de osso extraída de fósseis dos dois mamíferos, o toxodonte e a macrauquênia, demonstraram que eles tinham relação com o grupo que inclui cavalos, antas e rinocerontes.
Toxodonte era parecido com hipopótamo
Alguns cientistas já acreditavam que os dois mamíferos herbívoros, os últimos de um grupo bem-sucedido chamado de ungulados sul-americanos, tinham relação com mamíferos de origem africana como os elefantes e os porcos-da-terra, ou outros mamíferos sul-americanos como os tatus e as preguiças.
"Desvendamos um dos últimos grandes problemas ainda sem solução da evolução mamífera: as origens dos ungulados sul-americanos nativos”, disse o biólogo de evolução molecular Ian Barnes, do Museu de História Natural de Londres, cuja pesquisa está no periódico científico "Nature".
Toxodonte e macrauquênia
O toxodonte, que tinha cerca de 2,75 metros, possuía um corpo semelhante ao do rinoceronte, a cabeça como a de um hipopótamo e molares sempre em crescimento, como os de um roedor. A macrauquênia, do mesmo tamanho, mas de compleição mais leve, tinha pernas longas, um pescoço comprido e um tronco aparentemente pequeno.
"Algumas das primeiras ideias de Darwin sobre a evolução por meio da seleção natural foram concebidas contemplando os restos de toxodonte e macrauquênia, que lembravam de maneira tão confusa os traços de uma série de outros grupos, mas que tinham desaparecido muito recentemente”, explicou o paleomamiferologista Ross MacPhee, do Museu de História Natural de Nova York.
Colágeno revelou resposta
Os pesquisadores tentaram sem sucesso obter DNA dos fósseis, mas conseguiram obter o colágeno, que é mais resistente, dos restos mortais. O colágeno é a principal proteína estrutural de vários tipos de tecido, incluindo ossos e pele.
Os cientistas compararam o colágeno com uma ampla variedade de mamíferos vivos e alguns extintos para posicionar as criaturas corretamente na árvore genealógica dos mamíferos. A conclusão foi que os estranhos animais eram descendentes de um grupo de mamíferos placentários próximo ao grupo que inclui cavalos e rinocerontes.
MacPhee afirmou que este grupo provavelmente chegou à América do Sul pela América do Norte aproximadamente 65 milhões de anos atrás, época em que os dinossauros foram exterminados em uma calamidade que permitiu aos mamíferos se tornarem os maiores e mais prevalentes animais terrestres.
Uma gama eclética de mamíferos, como preguiças do tamanho de elefantes e marsupiais de grandes presas, surgiu na América do Sul.
Fonte: G1