Cientistas resgatam a longa jornada de jovem morta há 3.400 anos
Os restos mortais de uma jovem que viveu há 3.400 anos parecem indicar que ela fez uma longa jornada nos últimos meses de vida antes de morrer onde hoje fica a Dinamarca, a 800 km de onde nasceu, segundo um estudo publicado na quinta-feira.
Trata-se da "Menina de Egtved", localidade da península de Jutlândia, na atual Dinamarca, onde foram encontrados os seus restos em 1921, escondidos em um tronco de carvalho oco, onde teriam permanecido envoltos em couro de boi, provavelmente desde o verão do ano 1.370 antes da nossa era.
Ela tinha entre 16 e 18 anos quando morreu e possivelmente media cerca de 1,60 metro, indicou este estudo publicado na revista Scientific Reports (grupo Nature).
Seus ossos não se conservaram, mas seus cabelos loiros, seus dentes, suas unhas e parte de seu cérebro e pele ficaram excepcionalmente bem preservados, assim como a roupa de lã e couro com que foi sepultada.
Analisando o estrôncio, um componente químico contido nos alimentos ingeridos que se incorpora ao esmalte dos dentes, os pesquisadores chegaram à conclusão de que provavelmente ela viveu na Floresta Negra, no atual sudoeste da Alemanha, a mais de 800 quilômetros do local onde morreu.
O estrôncio existe naturalmente na crosta terrestre e sua radioatividade varia segundo os lugares. Em seres humanos e animais, este elemento é absorvido pela água e pelos vegetais.
Por fim, medindo os níveis de isótopos em restos antigos, os cientistas conseguem obter os dados necessários sobre o local onde viveu uma pessoa ou um animal.
Os pesquisadores, chefiados por Karin Margarita Frei, do Museu Nacional da Dinamarca e do Centro para o Estudo Têxtil, analisaram os níveis de radioatividade do estrôncio.
Ao analisar a roupa concluíram que foi fabricada fora da Dinamarca atual.
"As ovelhas de onde extraíam a lã pastaram em locais com as mesmas características da Floresta Negra", destacou Karin Margarite Frei.
No entanto, os pesquisadores tampouco descartam que o local de origem da jovem estivesse nas atuais Suécia e Noruega ou na ilha dinamarquesa de Bornholm.
Os restos de seus cabelos, de 23 centímetros de comprimento, permitiram retratar seus movimentos mês a mês nos últimos dois anos de sua vida. As características químicas dos cabelos e das unhas podem dar informações sobre o local onde estava a pessoa no momento em que cresceram.
Segundo os cientistas, entre 13 e 15 meses antes de morrer, a jovem permaneceu em um local com características de estrôncio "muito similares" às do local onde se criou. Dali, viajou para outro local, possivelmente a Jutlândia, permaneceu ali nove ou dez meses e depois retornou.
Ali ficou entre quatro e seis meses e depois viajou ao que hoje é Egtved, onde morreu um mês depois.
"Penso que esta jovem (...) foi casada com um homem de Jutlândia com o fim de criar uma aliança entre duas famílias poderosas", avaliou Kristian Kristiansen, da Universidade de Copenhague, coautor do estudo.
Fonte: AFP