Cientistas descobrem cobra com quatro patas que viveu no Ceará há 120 milhões de anos
Um trio de cientistas descobriu uma cobra primitiva com quatro patas, que viveu no Ceará há 120 milhões de anos, e pode jogar luz na evolução da espécie.
O fóssil do animal, encontrado na chapada do Araripe, região rica em vestígios pré-históricos, traz algumas evidências de que as cobras atuais descendem de um grupo de lagartos que habitava tocas subterrâneas. Suas patinhas teriam como principal função agarrar as presas ou segurar o par durante o acasalamento. A descoberta foi descrita na edição de quinta-feira (23) da revista Science.
Os autores do artigo, o britânico David Martill, o americano Nicholas Longrich e o alemão Helmut Tischlinger, batizaram a criatura de Tetrapodophis amplectus (em grego, "tetrapodophis" significa "serpente de quatro patas"). Ela teria 20 centímetros e caçava pequenos vertebrados para se alimentar. O fóssil mostra que a parte da frente da nova espécie estava todo enrolada, o que indica que ela envolvia o corpo ao redor das presas, como fazem as jiboias atuais. Ela teria 160 vértebras na coluna e 112 na cauda e apresentava muitas características das cobras modernas, como um corpo e crânio alongado, focinho curto e mandíbula flexível para engolir grandes presas.
A teoria predominante é que as serpentes evoluíram de uma linhagem de lagartos que foi reduzindo suas patas gradativamente, até perdê-las por completo (ao longo de muitas gerações). Há dúvidas, porém, se essa transição ocorreu no ambiente marinho ou no meio terrestre. Se o Tetrapodophis for mesmo uma cobra primitiva, suas características anatômicas sugerem que a transformação ocorreu em terra, o que seria um elemento-chave para compreender a evolução da espécie.
Fóssil brasileiro - Apesar de o fóssil excepcionalmente bem preservado ter sido encontrado no Ceará, não há nenhum autor brasileiro no artigo. Essa discrepância levou a suspeitas de que o fóssil tenha sido retirado ilegalmente do país. A lei brasileira proíbe, desde 1942, a exploração e retirada de fósseis do território nacional por estrangeiros sem autorização do poder público.
Os autores do trabalho, da Inglaterra e da Alemanha, dizem que a peça estava "havia várias décadas" em uma coleção particular e que não há informações sobre onde, como, quando ou por quem ela foi coletada.
"Pode até ter acontecido como eles (os autores) dizem, mas é muito pouco provável. A maior probabilidade é que esse fóssil tenha saído há poucos anos do Brasil, de forma ilegal", avalia Max Langer, presidente da Sociedade Brasileira de Paleontologia e professor do Departamento de Biologia da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto.
O autor principal da pesquisa, David Martill, afirma que viu o fóssil pela primeira vez três anos atrás, durante uma visita com seus alunos ao Museu Bürgermeister-Müller, em Solnhofen, na Alemanha. Segundo ele, a peça estava exposta como um "fóssil de vertebrado desconhecido".
Fonte: Veja e Science