A pequena aranha que constrói a maior e mais forte teia do mundo
Teias da Caerostris darwini, encontradas em Madagascar, parecem tecidas por aranhas gigantes
Se você não sofre de aracnofobia, deve provavelmente admirar as teias intrincadas que as aranhas tecem para capturar suas presas. Mas uma espécie, em especial, tece teias particularmente mais impressionantes que todas as outras.
O motivo: além de poder ter vários metros de comprimento, elas são feitas de uma seda mais forte que o kevlar, a fibra sintética usada em coletes à prova de balas.
As teias de aranha têm várias formas e tamanhos diferentes. Mas se alguém lhe pedir para desenhar uma teia clássica, você provavelmente colocaria no papel uma esférica.
Esse é o nome que se dá a teias com um padrão circular em espiral, com fios interconectados. Dentro de uma teia esférica há diferentes tipos de seda: as linhas mais fortes da estrutura e as linhas adesivas que capturam as presas.
Não é surpresa o fato de as teias esféricas serem as mais familiares para nós, já que muitas aranhas fazem as suas assim. Esse grupo inclui as quase 3 mil espécies da família Araneidae, terceiro maior grupo desses animais no planeta.
Aranha comum de Jardim - Teias mais comuns têm um padrão circular em espiral
No hemisfério norte, as espécies mais comuns costumam fazer teias de até 40 centímetros de diâmetro. Elas são construídas à noite, prontas para um dia de captura de insetos que vivem em jardins, como moscas, vespas e borboletas.
Elas são particularmente mais comuns no outono, quando as folhagens do verão começam a secar. A nova geração de aranhas chega à maturidade nessa estação.
Mas em regiões mais quentes do mundo, tanto as aranhas quanto as teias tendem a ser maiores.
Aranha Nephila imperialis - As aranhas do gênero Nephila estão entre as maiores conhecidas
As maiores teias na Austrália pertencem às aranhas do gênero Nephila. Alcançam até um metro de diâmetro e podem ficar penduradas entre árvores ou postes.
As próprias aranhas podem abraçar uma mão humana com suas pernas. Suas teias são bastante fortes, e há registros de aranhas especialmente grandes se alimentando de pássaros presos nelas.
A fêmea da espécie Nephila komaci, apresentada em 2009 por cientistas como a maior do gênero, tem um corpo de até quatro centímetros e pernas de mais de dez centímetros de comprimento. Elas são capazes de tecer teias que alcançam mais de um metro de diâmetro.
Essa espécie é muito rara, encontrada apenas em duas localidades em Madagascar e na África do Sul.
Aranha Caerostris darwini foi batizada em homenagem a Charles Darwin
Em 2010, uma equipe internacional de biólogos anunciou a descoberta das maiores teias de aranha do mundo em Madagascar. A espécie responsável por elas foi oficialmente descrita no 150º aniversário da publicação de A Origem das Espécies, de Charles Darwin, e recebeu o nome de Caerostris darwini, ou aranha da casca de árvore de Darwin.
É difícil imaginar como ninguém havia descoberto essas aranhas antes. Uma única teia pode cobrir um rio de 25 metros de largura.
Para tecê-la, a fêmea solta uma linha contínua de seda de uma margem do rio, e as correntes de ar a levam para a outra margem para formar uma ponte. No centro da ponte, a aranha constrói uma teia esférica que pode chegar a três metros de diâmetro.
Teia sobre rio em Madagascar - Para tecer a teia, aranha lança fio que é levado à outra margem por corrente de ar
A criadora dessa teia colossal, no entanto, não é nenhuma gigante.
“As fêmeas de Caerostris darwini têm corpo com cerca de 1,5 centímetro e pesam cerca de meio grama, enquanto os machos são muito menores, com um décimo do tamanho”, diz Matjaž Gregorič, da Academia Eslovena de Ciências e Artes, de Liubliana, que vem pesquisando a espécie desde sua descoberta.
Como essas aranhas pequenas conseguem produzir a enorme quantidade de seda necessária para suas superteias?
“Essa é uma boa questão, para a qual ainda não temos uma resposta definitiva”, comenta Gregorič.
Para descobrir isso, ele e seus colegas vêm pesquisando as relações evolutivas entre as aranhas, que podem trazer alguma luz sobre como a capacidade de tecer teias evoluiu.
Os machos da espécie Caerostris darwini são bem menores que as fêmeas
“Todo o gênero Caerostris parece ter uma seda mais forte que a de outras aranhas, além de um comportamento na tecelagem bastante particular”, diz ele. Enquanto as aranhas Nephila tecem teias com padrões mais densos e com uma seda de menor qualidade, as Caerostris criam teias mais esparsas e com uma seda mais resistente.
Ambas as técnicas resultam em teias fortes, capazes de capturar as presas. Mas ao posicionar suas teias diretamente acima do leito de rios, as Caerostris darwini conseguem capturar dezenas de libélulas e outros insetos ricos em energia que vivem na água.
As Caerostris darwini conseguem capturar insetos grandes como libélulas
“Nossa hipótese é de que essa combinação era uma predisposição da aranha em ser capaz de dominar esse habitat particular. Nenhuma outra aranha usa a coluna de ar sobre as águas abertas, então provavelmente o tamanho da teia e as propriedades do material serviram à adaptação ao habitat”, diz Gregorič.
Para descobrir se essa tese está correta, os biólogos estão estudando as aranhas e sua seda. Para testar as propriedades da seda, eles usam uma máquina de tensão, descrita por Gregorič como “uma máquina que agarra o fio nas duas extremidades e vai puxando até que o material rompa, medindo a força quando isso ocorre”.
Com esse método, eles descobriram que a seda é mais forte que o aço. Ela também já foi descrita como o material biológico mais resistente já conhecido.
As aranhas Caerostris darwini se camuflam para parecer casca de árvore
Os dois conceitos podem parecer similares, mas há uma diferença entre resistência e força. Os materiais fortes são resistentes à pressão, mas os materiais resistentes são maleáveis, o que significa que são capazes de absorver mais energia antes de romper.
Isso é essencial em uma teia de aranha, já que cada filamento precisa resistir ao impacto e aos movimentos das presas se debatendo sem prejudicar o resto da estrutura.
A combinação de força e resistência é altamente desejada por engenheiros que desenvolvem novos materiais, que vão de coletes à prova de balas a redes de pesca. Muitos cientistas já estão de olho em como criar as “fibras do futuro” a partir da seda de aranhas, e não há nenhum objeto de desejo maior que a das Caerostris darwini.
Fonte: BBC