A família de Eta Carina
Eta Carina é o sistema estelar mais massivo da nossa galáxia, pelo menos dentro de um raio de 10 mil anos luz. O sistema se constitui de duas estrelas massivas, uma com 90 vezes a massa do Sol e outra com pelo menos 30 massas solares. As duas estrelas estão nas fases finais de suas vidas e seu comportamento mostra que falta pouco para que elas explodam em um evento muito mais intenso do que uma supernova, ou duas no caso.
O sistema de Eta Carina pode ser visto na constelação da Carina, no hemisfério sul. Ela foi classificada como a sétima estrela mais brilhante da constelação, mas entre 1833 e 1845, Eta Carina passou por uma erupção que a tornou a estrela mais brilhante de sua constelação, passando Canopus. Nessa erupção, algo como 30-40 massas solares de gás foram lançados ao espaço e hoje formam uma nebulosa que cerca o sistema e impede que vejamos os detalhes das duas estrelas. Por mais duas vezes Eta Carina sofreu outras erupções, que lançaram mais material ainda. Esse comportamento eruptivo, com essas golfadas de matéria ao espaço parece ser típico das fases finais de vida das estrelas massivas. Pode até ser que uma, ou as duas estrelas do sistema já tenham explodido, mas por causa da distância, apenas daqui a alguns milhares de anos saibamos disso.
O fato que sistemas como esses, com dois mamutes espaciais, são raros no universo. Na nossa galáxia, por exemplo, só temos conhecimento de um caso, dentre 200 bilhões de estrelas. Mas com tanta galáxia conhecida, não seria o caso de haver sistemas parecidos por aí afora?
Seria, mas o problema é a distância. Dentro da Via Láctea, que tem uns 100 mil anos luz de distância “apenas”, conhecemos um caso, mas ninguém tem certeza que seja o único. E o que dizer de outras galáxias que estejam a 100 milhões de anos luz?
Pois é, serviço puxado encontrar mamutes pelo universo, mas uma equipe de astrônomos liderados por Rubab Khan do centro espacial Goddard da NASA parece ter encontrado. E não só um, mas cinco em quatro galáxias diferentes!
Para essa tarefa, os pesquisadores usaram dois telescópios espaciais da NASA, o Hubble e o Spitzer, que opera no infravermelho e o truque foi usar a emissão da radiação de poeira, que tem seu máximo no infravermelho. Quando o material expelido pela erupção esfria, ele se aglutina e forma grão de poeira, que quando absorve a luz das estrelas no sistema, esquenta e emite novamente no infravermelho. Com Eta Carina é assim, aliás, em comprimentos de onda do infravermelho, ela é a fonte mais brilhante do céu.
As observações de Khan e seus colaboradores encontraram 5 candidatos com as mesmas características de Eta Carina, tanto no ultravioleta, quanto no infravermelho. Os dados mostravam que havia uma fonte muito intensa de radiação obscurecida por uma massa de gás e poeira correspondente a 10 massas solares, no mínimo. Essa quantidade de matéria deve ter sido a mesma expelida por Eta Carina na sua última erupção. De tão parecidos com Eta Carina, os candidatos são chamados de gêmeas e duas foram encontradas na galáxia de M83 a 15 milhões de anos luz de distância e uma em cada uma das galáxias NGC 6946, M101 e M51, que estão entre 18 e 26 milhões de anos luz.
Além de acabar com o complexo de solidão de Eta Carina, qual a implicação dessa descoberta?
Como Eta Carina é única, pelo menos até agora, como ter certeza que erupções como o que ela enfrentou são mesmo eventos que prenunciam sua explosão? Como propor uma teoria para estrelas parecidas, se apenas um caso é conhecido?
Essa descoberta é apenas um começo, os autores querem agora aprofundar as observações para conseguir caracterizar melhor os mamutes gêmeos de Eta Carina. Certamente, pequenos eles não são.
Fonte: G1