Biólogos monitoram os ovos raros do pequeno "dragão" da Eslovênia
Nas profundezas de uma gruta da Eslovênia, uma fêmea do pequeno "dragão", como ali é popularmente conhecido o proteus (Proteus anguinus), uma espécie rara de salamandra que só existe em águas subterrâneas de algumas montanhas europeias, entrou em fase de reprodução e colocou entre 50 e 60 ovos - e três estão mostrando sinais de crescimento.
OK, mas qual é a novidade? Esta é uma oportunidade única dos biólogos seguirem passo a passo todo o processo que nunca antes foi observado na natureza, até os bebés salamandras eclodirem dos ovos lá para maio.
Único vertebrado que habita grutas nas montanhas da Europa, esta espécie de salamandra cega pode viver mais de um século, mas só se reproduz uma ou duas vezes em cada década e nunca antes os biólogos observaram esse processo, e o que está para acontecer no aquário da gruta de Postojnska Jama, nos Balcãs, é um verdadeiro acontecimento.
Foi há quase um mês, num sábado, dia 30 de janeiro, que um dos guias da gruta, que é anualmente visitada por milhões de turistas, notou um ovo agarrado à parede do aquário, explicam os responsáveis do Postojna Cave Park na sua página da Internet.
Os biólogos entraram de imediato em cena e o que viram foi uma fêmea feroz, defendendo seus ovos da aproximações indesejadas de outras salamandras e dos crustáceos que não hesitariam em comê-los.
Para prevenir eventuais perdas de ovos - a fêmea já pôs 55 e continua ainda colocando um ou dois por dia - os biólogos removeram com cuidado todas as outras salamandras do aquário e estão muito atentos ao desenrolar dos acontecimentos.
O processo reprodutivo desta espécie nunca foi observado e os biólogos contam apenas com estimativas, baseadas numa descrição dos anos 50, de uma colônia desta espécie que vive nos Pirenéus franceses, em águas subterrâneas à temperatura de 11 graus Célsius. Como as águas na gruta eslovena são um pouco mais frias, cerca de 9ºC, os cientistas esperam que os ovos venham a desenvolver-se e a eclodir mais ou menos no prazo de 120 dias. Ou seja, se tudo correr bem, os primeiros bebés dragão poderão começar a nascer lá para o início de maio.
Neste momento, no entanto, a equipe de biólogos que está acompanhando o processo, Lilijana Bizjak Mali, da Universidade de Liubliana, e Stanley Sessions, do Hartwick College, de Nova York, nos Estados Unidos, ainda não sabem quantos dos 55 ovos virão a desenvolver-se e dar novas crias.
Além dos biólogos, os visitantes também podem agora observar o que está a acontecer no aquário, graças a um monitor de vídeo e a uma televisão que foram instalados no local para monitorar todo o processo.
Carla Reis
Bióloga e adm. do site