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Como reconhecer o ‘burnout’ - e o que fazer se você for afetado

O burnout tem consequências graves. Afeta as pessoas de forma diferente, mas mesmo os casos leves, capazes de se prolongar por vários anos, podem levar a uma série de resultados negativos para a saúde. Isso inclui ansiedade e depressão relacionadas, aumento do risco de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, insônia, dores de cabeça e, talvez, o mais alarmante: aumento da mortalidade. PeopleImages.com - Yuri A/Shutterstock

Emília, uma gerente financeira, está trabalhando 60 horas por semana há vários meses para cumprir prazos. Ela começa a se sentir constantemente exausta, tanto física quanto mentalmente. O trabalho que antes lhe parecia envolvente agora parece esmagador, e ela se irrita facilmente com os colegas. Apesar de passar mais horas em compromissos profissionais, sua produtividade diminui. Por fim, ela começa a ficar doente com frequência e pensa em pedir demissão do emprego, sentindo que não consegue mais ‘dar conta’.

Emília é uma vítima de burnout - ou, em português, esgotamento. Em 2024, o Dia Mundial da Saúde Mental (10 de outubro) tem como foco o local de trabalho, com o objetivo de ajudar pessoas como ela a reconhecer quando a jornada está afetando sua saúde, para que possa tomar medidas e lidar com isso.

O esgotamento ocorre quando as demandas de um trabalho são altas por um longo período e não são compensadas por recursos mentais e físicos suficientes. Nessa situação, as pessoas não conseguem mais se recuperar de seu exigente ofício diário. A energia é gradualmente drenada, resultando em um estado de exaustão mental, uma atitude cínica e negativa em relação ao trabalho, bem como uma queda no desempenho.

Em outras palavras, as pessoas afetadas pelo burnout não são capazes nem estão dispostas a funcionar plenamente no desempenho de suas ocupações na empresa. O esgotamento pode ocorrer em qualquer área, mas é mais provável que aconteça em locais onde as demandas são altas e os recursos são baixos. É um fenômeno generalizado.

Um relatório da instituição de caridade Mental Health UK afirma que o Reino Unido está prestes a se tornar uma nação esgotada, com 91% dos adultos que trabalham (e participaram da pesquisa) relatando níveis altos ou extremos de pressão e estresse em algum momento do ano passado.

De acordo com o mesmo relatório, 20% dos trabalhadores chegaram a se afastar devido à saúde mental debilitada causada pelo estresse, no ano passado.

Mulher estressada trabalhando em uma fábrica, com óculos de proteção e capacete.
Você não precisa trabalhar em um emprego de escritório para correr o risco de esgotamento. ultramansk/Shutterstock

As pesquisas têm demonstrado, consistentemente, que as principais causas do burnout são as demandas excessivas e prolongadas. Isso inclui, por exemplo, altas cargas de tarefas, insegurança no ambiente, ambiguidade de função, conflito, estresse ou eventos estressantes e pressão no trabalho.

O burnout tem consequências graves. Afeta as pessoas de forma diferente, mas mesmo os casos leves, capazes de se prolongar por vários anos, podem levar a uma série de resultados negativos para a saúde. Isso inclui ansiedade e depressão relacionadas, aumento do risco de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, insônia, dores de cabeça e, talvez, o mais alarmante: aumento da mortalidade.

Pessoas com casos leves de burnout também correm o risco de desenvolver um esgotamento mais grave que as manterá afastadas por longos períodos.

O quadro também é preocupante para as organizações, pois tem um impacto negativo na criatividade, leva a uma maior rotatividade de funcionários, ao aumento do absenteísmo e a um desempenho ruim na dinâmica das empresas.

Os sintomas variam de pessoa para pessoa e, às vezes, alguns podem nem perceber que estão esgotadas até que não estejam mais apenas cansadas, mas exaustas demais para funcionar.

As vítimas de burnout ficam sem energia e sofrem com a sensação de estarem sobrecarregadas até mesmo com pequenas tarefas. Elas se distanciam do trabalho, lutam com dúvidas sobre si mesmas e desenvolvem atitudes cínicas e negativas em relação ao que fazem ou às pessoas que as contrataram.

Ao procurar sintomas de esgotamento, pode ser útil fazer a si mesmo perguntas como: Você costuma falar sobre seu trabalho de forma negativa? Tende a pensar menos no seu trabalho e a fazê-lo de forma quase mecânica? Às vezes, se sente enjoado com suas tarefas? Há dias em que você se sente cansado antes de chegar ao trabalho? Costuma se sentir emocionalmente esgotado durante o dia? Geralmente, se sente sem forças e cansado depois da jornada?

A recuperação e a prevenção do burnout precisam ajudar a minimizar as demandas que causam exaustão e desinteresse. Por exemplo, a redução da carga horária e da pressão, e o estabelecimento de limites claros entre vida profissional e pessoal podem contribuir para reduzir o estresse.

Os recursos dentro da própria empresa também podem atenuar o impacto negativo do excesso de trabalho. Isso inclui aspectos como controle, variedade de tarefas, apoio social, feedback do desempenho, oportunidades de desenvolvimento profissional e a qualidade do relacionamento do funcionário com seu supervisor.

Quando as pessoas têm uma abundância desses recursos, a ligação entre as demandas e o burnout é bastante reduzida, pois ajudam os trabalhadores a lidar melhor com a situação.

A recuperação é possível

As oportunidades de recuperação do estresse relacionado ao trabalho são um recurso especialmente importante nesse contexto. Recuperação significa que os funcionários têm tempo livre para relaxar e se desligar da agenda profissional. Isso pode incluir atividades de lazer que permitam que as pessoas simplesmente sintam prazer sem pressões competitivas.

A pesquisa também demonstrou que a elaboração do trabalho é uma intervenção eficaz contra o burnout. Significa que os funcionários fazem pequenos ajustes na carga e nos recursos. Eles podem diminuir as demandas tomando medidas para minimizar os aspectos emocionais, mentais ou físicos ou reduzindo a carga diária, simplesmente.

Esse plano pode envolver a busca por um local mais calmo para cumprir os compromissos. Também podem participar mais efetivamente do desenvolvimento profissional, ganhando mais autonomia e pedindo apoio, opiniões e conselhos a outras pessoas. Com o tempo, o engajamento na elaboração do trabalho levará à redução do burnout.

As organizações também precisam fazer sua parte. Uma série de estratégias de intervenção, como treinamento de gerenciamento de estresse, abordagens baseadas na atenção plena ou políticas que permitam que os funcionários se desconectem do trabalho fora do horário normal, são ferramentas úteis para combater o burnout em empresas.The Conversation

Por Michael Koch, Reader in Human Resource Management & Organisational Behaviour, Brunel University of London e Sarah Park, Professor in International Business, University of Leicester

Este artigo foi publicado originalmente no site The Conversation