Novas pinturas e detalhes descobertos no templo egípcio de Esna
O rei sacrificando quatro queimadores de incenso diante da barca sagrada de Khnoum. Na frente dele está o sem-sacerdote, vestindo uma pele de leopardo e fazendo uma oferenda de uma roda de oleiro ao deus criador Khnoum
O Templo Romano de Esna, situado a 60 km ao sul de Luxor, no Egito, está sendo restaurado em um ambicioso projeto de cooperação entre Egito e Alemanha. Embora a estrutura original do templo não tenha sobrevivido ao tempo, seu amplo pátio, que servia de acesso ao edifício, ainda resiste. Este espaço foi redescoberto há mais de dois séculos e agora está no centro dos esforços de restauração.
Ao longo dos últimos 1.800 anos, o pátio foi escurecido por fuligem proveniente de fogueiras acesas pela população local, ocultando as cores vibrantes que antes adornavam suas paredes e colunas. Recentemente, uma equipe de 30 restauradores egípcios, liderada pelo especialista Ahmed Emam, começou a revelar as cores originais, especialmente nas representações astronômicas no teto e nas 18 colunas internas.
Os cartuchos de Ptolomeu VI na fachada ptolomaica. Na frente deles, duas formas do deus local Khnoum. No topo da imagem, pontas modernas foram instaladas como proteção contra pombos
Esse pátio de arenito, com 37 metros de comprimento e 15 metros de altura, foi construído durante o reinado do imperador romano Cláudio (41 d.C. – 54 d.C.) e sobreviveu ao passar dos séculos, preservado pela sua localização central na cidade. Hoje, ele é considerado um exemplo raro e valioso da arquitetura dos templos egípcios antigos.
Em 2024, os restauradores completaram a restauração da parede interna sul e da parede traseira oeste. Segundo o egiptólogo Christian Leitz, "a maior descoberta deste ano foram os inúmeros detalhes pintados nas vestes do rei e nas divindades de Esna", revelados após a remoção da fuligem secular. Coroas e tronos, que antes estavam ocultos, voltaram a brilhar nas cores predominantes de amarelo e vermelho, contrastando com a paleta mais suave de outros templos da região, como Dendara, onde predominam o branco e o azul.
Esses detalhes pintados são essenciais nas cenas de oferendas que cobrem as paredes do templo. Uma das mais notáveis representa a oferenda de arco e flecha à deusa Neith, onde foram descobertos quatro arcos pintados na base do trono. Essa imagem pode fazer referência aos “nove arcos”, um símbolo tradicional do domínio egípcio sobre seus territórios.
Outro destaque da restauração é o avental do rei, adornado com símbolos das duas regiões do Egito: o papiro, representando o Baixo Egito, e o lírio, simbolizando o Alto Egito.
A barca sagrada com o santuário de Khnoum, a principal divindade de Esna, transportada por vários sacerdotes
Entretanto, a cena mais impressionante retrata a barca sagrada do deus Khnoum, divindade da nascente do Nilo, sendo carregada em procissão por sacerdotes. Durante essas celebrações religiosas, a população de Esna tinha a rara oportunidade de contemplar o santuário do deus, normalmente acessível apenas aos sacerdotes.
O trabalho de conservação será retomado em novembro, quando os restauradores concentrarão seus esforços na limpeza das seis colunas frontais do pátio. A tarefa foi adiada devido ao calor intenso do verão, que torna o trabalho inviável nesta época do ano.